Summary: Apesar das inúmeras campanhas públicas que visam informar à população sobre os riscos do uso de drogas, o abuso das mesmas tem aumentado nas últimas décadas e representa um sério problema para a sociedade e para o governo. De acordo com o relatório anual mundial sobre o uso de drogas do UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime-2010), bilhões de dólares são gastos anualmente na prevenção e tratamento de usuários de drogas em todo o mundo.
No Brasil, apesar das pesquisas sobre o abuso de drogas serem pouco recentes, dois levantamentos realizados pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) em 2001 e 2005 mostraram que 19.4% dos entrevistados fizeram uso na vida de drogas ilícitas em 2001 e esse número atingiu 22.8% da população pesquisada em 2005. Embora não existam dados mais atuais sobre a utilização de drogas no país é provável que as estatísticas nacionais sigam a tendência mundial, ou seja, que esses números sejam ainda maiores aos anteriormente observados. Esses estudos mostraram um aumento significativo no uso de drogas psicoativas, com destaque para maconha, cocaína, alucinógenos e, principalmente, o crack.
Desde o aparecimento do crack na década de 1990, houve uma intensa disseminação do uso dessa droga principalmente pelo baixo custo de aquisição e rapidez do efeito psicotrópico quando comparada ao uso da cocaína inalada por via intranasal. (Ribeiro e cols., 2010, Nappo e cols., 1996 e 2001, Ribeiro e cols., 2004 e 2006, Guindalini e cols., 2006, Oliveira LG e Nappo SA., 2008a e 2008b, Herculiani e cols., 2009, Zubaran e col., 2010). O mapeamento do uso na vida do crack mostrou um aumento de quase 100% da prevalência do uso da droga de 2001 a 2005. Uma vez que a dependência ao crack atinge o indivíduo principalmente na fase produtiva da vida e essa dependência desenvolve-se particularmente de forma rápida e quase irreversível, os gastos públicos (SUS, Previdência Social) com o tratamento da dependência da droga e suas conseqüências são altíssimos. Portanto, existe uma grande demanda em estudos específicos e mais aprofundados para entender todos os aspectos da dependência ao crack, principalmente o fato do mesmo levar a esse quadro em um período tão curto de tempo quando comparado a outras drogas (cocaína principalmente). A partir desses entendimentos, poder-se-á elaborar estratégias específicas para o tratamento da dependência a essa droga. Essas estratégias envolvem desde o desenvolvimento de fármacos até o monitoramento do tipo de ambiente e condições sociais vividos e enfrentados pelo indivíduo, antes e depois da dependência.
Enquanto que uma grande porcentagem de indivíduos experimenta alguma droga de abuso ao longo da vida, apenas uma pequena parte desenvolve a compulsão patológica pela droga que caracteriza a adição (Kreek e cols., 2005). Isso sugere que a adição resulta de uma interação complexa entre a droga de abuso, fatores genéticos e ambientais (Kreek e cols., 2005). Dessa forma, todos esses fatores devem ser levados em consideração na busca da elucidação dos mecanismos moleculares e comportamentais do abuso de drogas.
A compreensão dos mecanismos moleculares responsáveis pela dependência às drogas é essencial na busca de estratégias terapêuticas específicas para o abuso dessas substâncias. Entretanto, o número de estudos que visam elucidar os aspectos neuroquímicos e neurofisiológicos do abuso de crack é muito pequeno. Isso se deve ao fato de ser a cocaína o princípio ativo do crack. (Jenks e cols., 2002, Huestis e cols., 2007). Sendo assim, os modelos animais utilizados até hoje são pouco específicos para o crack e não permitem acessar as diferenças entre o abuso dessa droga e da cocaína injetada ou cheirada, razão pela qual o conhecimento acerca das bases moleculares do abuso e dependência do crack são quase inexistentes. Além disso, produtos da pirólise do cocaína, como o metabólito exclusivo de consumo de crack anidroegnonina metil éster (AEME), possuem efeitos que têm sido pouco explorados. Um melhor entendimento dos aspectos neurobiológicos que expliquem o desenvolvimento rápido da adição e/ou as alterações cognitivas e moleculares decorrentes do uso do crack são imprescindíveis na busca de tratamentos efetivos para a dependência.

Starting date: 01/04/2015
Deadline (months): 24

Participants:

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Coordinator * RITA GOMES WANDERLEY PIRES
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